Hoje é comum a gente ver missionárias solteiras. Nem sempre foi assim. E elas tiveram que lutar muito pela igualdade.
Uma das que mais batalharam por este direito foi a norte-americana Lottie Moon.
Na
faculdade, teve uma marcante experiência religiosa durante uma série de
conferências, lembrada por ela com as seguintes palavras:
– Fui ao culto para criticar e voltei ao meu quarto para passar a noite em oração.
Pouco
tempo depois, em plena guerra civil, ela se formou no grupo das cinco
primeiras mulheres do sul dos Estados Unidos a completarem um curso
superior. Logo após a morte de sua mãe, a irmã mais nova, Edmonia, foi
nomeada como missionária na China. No ano seguinte, Lottie foi atrás.
A irmã não agüentou o trabalho e voltou. Lottie continuou na China.
Isso
a deixou muito deprimida. Nessa época, recebeu uma carta de um antigo
namorado, propondo que se casassem e fossem atuar como missionários no
Japão.
Ela pensou muito e concluiu que era melhor continuar na China.
O
trabalho não ia bem. Seu desejo era `andar entre os milhões’ como
evangelista. Não foi o que aconteceu. Como era mulher, acharam que só
podia ser professora. Ela protestou, bem ao seu estilo:
– Relegar as
mulheres a tais papéis é a maior insensatez das missões modernas. Desejo
levar o Evangelho ao maior número de pessoas que eu possa alcançar. Não
posso fazer, ao mesmo tempo, o trabalho da escola e o do interior.
(...) Se posso optar entre escola e evangelização, prefiro as aldeias.
Por
fim, depois de 12 anos na China, mudou-se para outra cidade, para um
trabalho pioneiro de evangelização. Não foi fácil. Como método e para
não escandalizar o povo, tornou sua casa uma espécie de centro de
reunião. Deixou de comprar comida estrangeira, acostumou-se com a comida
chinesa e passou a se vestir à chinesa também. Essa identificação foi a
chave do sucesso. Cinco anos depois, foram batizadas cinco pessoas por
um missionário especialmente convidado. Lottie dividia o tempo entre
duas cidades. Em Ping-tu evangelizava diretamente e em Tengchou treinava
novos missionários.
Mas havia uma outra frente missionária: eram as
cartas, sempre sinceras e desafiadoras, que mandava para os batistas dos
Estados Unidos, especialmente a mulheres.
Por meio dessas cartas, sugeriu que as mulheres fizessem uma semana de oração e oferta para as juntas missionárias:
–
Será necessário dizer por que deve ser preferida a semana antes do
Natal? Não é esta época festiva, quando os membros de uma família e os
seus amigos trocam presentes em memória da Dádiva oferecida no altar do
mundo para a redenção da raça humana, o tempo mais apropriado para que
consagremos uma parte, quer da abundante riqueza, quer da extrema
pobreza, às boas novas de grande alegria para todo o mundo.
A
resposta foi pronta. As mulheres se mobilizaram. A oferta é até hoje
muito importante para o sustento da obra missionária dos batistas ao
redor do mundo, inclusive no Brasil. A cada natal são levantados mais de
dois bilhões de reais; é o que os americanos chamam de `Oferta de Natal
Lottie Moon’.
Quase ao final de sua vida, essa missionária teve que
enfrentar uma outra batalha. A China e o Japão declararam guerra. A
cidade onde Lottie morava estava bem no centro do conflito.
Assim, um
dia, ao chegar em casa, descobriu um grande buraco na parede de seu
quarto. Era a bala de um canhão que passara por cima de sua cama, para
cair no quintal.
Nem por isto deixou de dormir em sua casa, chamada de
`Pequena Encruzilhada’.
A
situação foi ficando difícil. Em meio à guerra, os crentes começaram a
ser perseguidos. Lottie teve que fugir para o Japão. Seu desejo era
voltar. E ela o fez, para enfrentar uma outra e última batalha.
A
China estava sendo assolada pela varíola, pela seca e pela fome. As
escolas tiveram que ser fechadas. Centenas de crentes morreram. Lottie
fez tudo o que pôde; deu todo o dinheiro que possuía. Deprimida pelo que
via diariamente, ficou sem comer. Logo ficou também doente.
Quando o
médico chegou, descobriu que Lottie Moon estava morrendo de inanição.
Seus colegas providenciaram uma passagem de volta para os Estados
Unidos, acompanhada de uma enfermeira.
Era tarde demais. Ela morreu
no navio, aos 72 anos de idade, já na costa do Japão. Seu martírio foi
diferente dos de Policarpo de Smirna e Balthasar Hubmaier. Como estes,
no entanto, morreu como conseqüência do seu compromisso de ser fiel até à
morte.
O jornal de missões do seu país escreveu: `Lottie Moon era o melhor homem entre os nossos missionários’.
Os
batistas e a igreja em geral devem muito a essa defensora da igualdade
entre homens e mulheres e dessa impulsionadora do espírito missionário.
PRINCIPAIS MOMENTOSNome: Charlotte (Lottie) Diggs Moon
Nascimento: 1840
Países: Estados Unidos e China
Cidades: Tengchou, Ping-tu
Morte: 1912
Forma: inanição (fome)
PENSAMENTOS“O
que as mulheres que vão para a China desejam é oportunidade e liberdade
para realizar o maior trabalho possível. (...) O que as mulheres têm o
direito de exigir é a perfeita igualdade”.
“A simples justiça
exige que as mulheres tenham igualdade de direitos com os homens nas
reuniões e na conduta do trabalho missionário”.
“Não pode haver certamente alegria maior do que salvar almas”.
“O
mundo é o campo e onde quer que haja um lar para ser transformado ou
uma alma a ser redimida, há trabalho para a mulher que quer servir a
Cristo”.