Depois de certo tempo no Japão, me incumbi da
difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês:
kokoro.
Kokoro ou Shin significa
coração-mente-essência.
Como
educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas,
de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do
grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar.
Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las.
Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.
Nos
abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria
tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores,
saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área.
As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se
mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não
furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando
de remédios perdidos – mas esperaram sua vez também para receber água,
usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés
singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam
também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva,
da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.
Nos
supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques.
Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que
recebiam.
Ainda há na cultura e chamado de kansha no kokoro:
coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra chave.
Desculpe, sinto muito, com licença.
Por
vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe
causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com
você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo minhas
lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao
mundo. Sumimasem.
Quando
temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos,
necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e
respeitadas.
O
inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim,
perderei. Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando
as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado
com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem
estarrecer, sem causar pânico. As vítimas encontradas, vivas ou mortas
eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente
transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de
hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os
levariam a hospitais.
Análise
da situação por especialistas, informações incessantes a toda população
pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que "somos um
só povo e um só país".
Aprendemos com essa tragédia o que:
a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.Por isso a necessidade de se pregar o evangelho do Reino de Deus!
Podemos perceber como tudo está interligado e que
nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra e seus moradores, somente há solução em Jesus Cristo.
O
planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na
casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver
com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos.
O
que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do
solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos
com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência
leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à
reconstrução.
Esse
exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de
respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que
acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Por isso a cada dia, ore por essa nação, clame para que Deus venha fazer milagres e pródigios ainda nesta nação. E que vidas sejam resgatadas para a glória do nome do Senhor!
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